Aparentemente, nos dias que correm, se pararmos um pouco para analisarmos a nossa sociedade, as nossas gentes e o modo como interagem, poderemos incorrer na falácia de julgarmos alguns dos seus aspectos como inversamente proporcionais.
É falacioso, é falso, é errado, porque não só estaremos a generalizar, como estaremos também certamente, a perspectivar o tema de um só prisma.
Ainda assim, pensemos dessa referida forma, apliquemo-lo, por exemplo, às acções de solidariedade e ao voluntariado e descubramos como poderemos errar em determinadas situações, mas acertar em cheio noutras.
Se imaginarmos um país extremamente desenvolvido, com boas fundações económicas, onde a riqueza é eficientemente bem distribuída e onde não existem assimetrias de qualquer género, poderemos arriscar pensar que não só estaremos a sonhar, como possivelmente nesse país o voluntariado e programas de solidariedade não serão significativos. No fundo poderemos inicialmente pensar que riqueza, desenvolvimento e existência de simetrias, poderão ser inversamente proporcionais a esse tipo de acções humanitárias, mas não mais estaremos a cometer, senão um crasso erro. É que o hábito desse género de países, é justamente primarem por iniciativas de voluntariado. Será provavelmente derivado da pesada consciência egoísta que os assola diariamente, mas se nós, Portugueses, conseguíssemos conciliar o positivo que daí advém, com a nossa fraternidade e companheirismo característico, seria um passo gigantesco no sentido da melhoria do nosso bem estar.
Mas continuemos na teoria do inversamente proporcionais...
Se já vimos um erro que se pode cometer, tentemos agora acertar na “mouche”. É tão simples quanto isto:
Pela experiência que guardo de determinadas acções de voluntariado, sinto que em Portugal, existe uma relação inversamente proporcional, entre o nível económico das pessoas e a facilidade em contribuir para benefício dos mais necessitados. É que já por várias vezes vi, que quem mais carências parecia ter, mais gosto, facilidade e orgulho tinha em dar o pouco do seu aos outros!
Inversamente proporcional é também a relação que existe entre os voluntários que se dedicam de alma e coração às acções do tipo que aqui hoje abordamos. Quem tem mais tempo, é quem menos se disponibiliza. É que ao contrário do que poderíamos ser levados a pensar, são justamente os mais ocupados, aqueles que tem um horário mais preenchido e aqueles que mais adiantados vão no caminho da vida, que maior dedicação e disponibilidade transmitem. São os mais velhos e os trabalhadores incansáveis, quem consegue sempre desenrascar o pouco tempo e forças que têm, para ajudar a quem mais precisa. A esses o meu reconhecimento e agradecimentos...
Felizmente digo isto sincera e alegremente, mas guardo alguma mágoa, pois vejo a minha geração cheia de ganas e potencialidades para viver, mas a desperdiçar muitas vezes tempo e saúde numa vida de um autismo perverso. Esse sim, é um problema sério e difícil de resolver, que nos enfraquece enquanto civilização e para o qual o “alimento” tende a escassear embora as alternativas estejam tão próximas.
Finalizando, gostaria apenas de transmitir que esta visão tão crítica, assume que é demasiado cinzenta e passível de pecar em parcialidade, quer por generalizar, quer por obedecer a uma espécie de coeteris paribus (tudo o mais constante), mas que ainda assim em nada prejudica que nos debrucemos e façamos uma pequena introspecção para um futuro melhor...e que esse futuro seja próximo!
João Maria Condeixa in
Notícias Alentejo