Axónios Gastos - fibras condutoras ou prolongamentos de neurónios que se encontram já consumidos.

terça-feira, julho 19, 2005

A Carta

Já muitos a devem ter lido, ainda assim, nunca é demais dar espaço a uma opinião sincera, honesta, válida e acima de tudo atenta à realidade que se vive em Évora.Assim:

Exmo. Senhores:

Como reacção a um desdobrável mandado colocar na nossa caixa de correio, pelo Presidente da Câmara Municipal de Évora, produzimos um texto/resposta que submetemos ao jornal “Diário do Sul” para publicação. O seu director, Sr. Manuel Madeira Piçarra, teve a amabilidade de telefonicamente e por carta, nos explicar as razões da impossibilidade de publicação do referido texto. No actual contexto devemos confessar que nunca tivemos tanta pena de não podermos ter um jornal...
Assim, e antes de recorrermos à escrita nas paredes (já não era a primeira vez...), enviamos o texto em causa, deixando ao Vosso critério a sua análise e eventual divulgação.

Cumprimentos
Ricardo Freixial



CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE ÉVORA


Cidade das “Excelências”, a tantos do tal, quatro anos depois…


Caro Presidente:


Há umas semanas atrás, mandou V. Exa. deitar na caixa de correio da nossa residência, um desdobrável contendo uma carta com o título “Vamos no Rumo Certo” e dirigida aos seus conterrâneos e aos que em V. Exa. confiaram para dirigir os destinos do concelho de Évora. Só poderia ter sido por engano porque nem nós somos da Cuba nem V. Exa. mereceu a nossa confiança para dirigir os destinos deste extraordinário Concelho de Évora ao qual pertencemos.
Esperávamos que a falta de concretização de grandes e relevantes obras de interesse para a melhoria da qualidade de vida deste Concelho, tivesse permitido ao Sr. Presidente, a apresentação de um documento no qual, passados que são quase quatro anos de mandato, enumerasse as razões que justificassem o não cumprimento das promessas eleitorais com as quais se comprometeu junto do eleitorado, tais como o Estádio Municipal com a Pista de Atletismo, o Pavilhão de Congressos, o Parque de Feiras e Exposições entre outras, independentemente da prioridade ou oportunidade de algumas delas.
Mas não, V. Exa. Sr. Presidente, optou por apresentar um volante vazio de conteúdo e no qual os termos “várias” e “inúmeras” utilizados no texto, tão vagos quanto imprecisos, demonstram bem as faltas de obra feita e de estratégia que acompanharam este mandato quase cumprido. O desdobrável aparece assim como uma mão cheia de nadas, infeliz até na ilustração, com fotografias de “algumas obras do regime”, no mínimo de gosto e funcionalidade duvidosos, tais como:
A Rotunda das Portas do Raimundo, exibindo um batólito xistoso que por vezes esguicha água, de difícil interpretação, incompleto por falta de peça escultórica como resultado de desentendimento (é voz corrente), entre o Sr. Presidente e o seu autor, por sinal o mandatário da sua última campanha, ou a Zona Envolvente das Muralhas, um arranjo que se impunha mas apresentando uma solução tipo, Quinta Playmobil/Jardim Lego com zonas de difícil circulação pedonal e passíveis de originar conflitos com a circulação automóvel, que não nos parece a mais ajustada, ou ainda o apressado e atabalhoado alcatroamento de cerca de 4Km do antigo Ramal de Mora, obra que sem outro qualquer equipamento de apoio, foi suficiente para que de forma atrevida e desadequada se tivesse anunciado a criação de uma “Ecopista”. O pavimento rígido, abrasivo e desadequado face aos propósitos de utilização permitirá no Verão, uma salutar utilização de manhã bem cedinho e depois, a partir da meia noite. Sem qualquer arranjo das zonas envolventes, nomeadamente arborização ou criação de espaços verdes para permitir a diversificação da actividade física ou o lazer, de “Ecopista” só mesmo o nome e à falta de melhor…a população lá vai aproveitando! Finalmente a Praça do Sertório - um projecto em evolução. Inicialmente com a intermitência dos esguichos de água a quebrar a frieza da pedra, mas a expor os transeuntes a “lavagens” inesperadas e inoportunas e agora com a colocação estratégica (?), de um conjunto de vasos entaçados ladeando os ditos esguichos intermitentes. Esperaremos para ver o que poderá dar mais…

Não duvidamos Sr. Presidente, que vários eborenses e não só, tenham durante este mandato, visto satisfeitas as suas ambições. Isto estará no entanto, aquém e longe do que será a necessidade da satisfação de várias aspirações que possibilitem a melhoria da qualidade de vida da maioria dos eborenses. Aqui, V. Exa. Sr. Presidente, transportou para o seu “Vamos no Rumo Certo”, a nítida confusão entre a prima do mestre de obras e a Obra Prima do Mestre…
A respeito da melhoria da qualidade de vida da população, saliente-se, como exemplo, a incapacidade evidenciada para ir para além da substituição da conduta de abastecimento, eventualmente necessária mas insuficiente para assegurar a melhoria da qualidade da água. Esta incapacidade continua a ser responsável por fazer sair das nossas torneiras, um líquido que pagamos bem caro e sobre o qual deixámos de ter informação como antes acontecia, mas que apresenta propriedades físicas bem distintas das da água (insípida, incolor e inodora), pois tem cor, cheiro e sabe mal.
E já agora Sr. Presidente, como estamos em pleno Verão, onde se situa o novo Complexo de Piscinas? E o também prometido Parque Urbano de Lazer e Fruição Ambiental? E onde estão plantadas as prometidas 4000 árvores (1000/ano)? E já mandou iniciar as obras de recuperação do Jardim Público?
Relativamente ao problema da habitação e contrariamente ao que o Vosso “Vamos no Rumo Certo”, pretende deixar transparecer, lamenta-se a existência de famílias que por falta de cumprimento das metas eleitoralmente propostas (400 novas habitações sociais por ano), continuarão sem ter uma habitação para viver. O milagre da multiplicação dos pães, teve aqui o seu paralelo com resultados opostos. De facto, a promessa de criação de quatrocentas novas habitações por ano, também não foi cumprida. Chegar ao final do mandato com apenas cerca de sessenta novas habitações, deixa este executivo muito longe dos objectivos propostos, lesando o Concelho e os seus habitantes. Nem mesmo as habitações recuperadas e pertencentes ao Parque Habitacional Público para arrendamento, sempre entregues a grupos de famílias e produzindo acontecimentos mediáticos, conseguem disfarçar a frieza dos números. Não terminaremos a abordagem desta temática sem antes registarmos que não são também visíveis os resultados da prometida utilização de 500 mil contos anuais na recuperação das casas degradadas de famílias com poucos recursos…
A inexplicável inércia responsável pela não expansão do Parque Industrial e Tecnológico, impediu que um número significativo de empresas tivesse tido a oportunidade de ampliar ou iniciar as suas actividades. Esta situação, que lesa não só os directamente interessados como também e sobretudo todo o Concelho, atesta na plenitude a “notável” contribuição da Autarquia para o desenvolvimento da Região, promove simultaneamente a especulação imobiliária em torno das superfícies existentes no mercado e contraria assim a promessa de disponibilização de terrenos a preços baixos para a instalação de empresas industriais, de comércio e serviços.
Por outro lado Sr. Presidente, as “ofensas” feitas a alguns monumentos da nossa cidade, que continuam sem qualquer vestígio de interpretação museológica, e a banalização de outros durante o “arraial” de S. João, do qual são exemplos o monumento aos Combatentes da Grande Guerra e a fonte do Rossio de S. Brás, esta encerrada dentro da barraca do café de um “ilustre Comendador” por acaso pertencente à família Socialista, estão em profunda contradição com o que afirma ser a Vossa preocupação na defesa do património histórico.

Naturalmente que não partilhamos infelizmente, da opinião de V. Exa. em considerar que o Concelho de Évora está melhor e duvidamos mesmo que o rumo que V. Exa. e a sua equipa nos quer impingir, seja o melhor.

Sentimos assim, necessidade de reagir. Como não fomos abordados para fazer parte do painel de eméritos munícipes, alguns até com evidente veia poética, que com as suas opiniões “Comme il faut”, em português “à maneira…”, ornamentam o seu escrito, optámos por esta forma de reacção.
Em pleno rescaldo do arraial poeirento por entre tendas de campanha (caríssimas segundo se diz), teimosamente apelidado de “Feira de S. João”, que não dignificando em nada a cidade, ajuda no entanto, na “justificação” da falta de criação do Parque de Feiras e Exposições e na manutenção do Rossio de S. Brás tal como está, e no auge da preparação do Évora Moda 2005, aquele tal evento da moda do Sr. Carlos Castro, que proporcionará, quem sabe num dos próximos números da revista”Maria”, uma fotografia do Sr. Presidente ou da Sra.Vereadora D. Fernanda Ramos junto a uma qualquer “celebridade” – Lili Caneças ou para variar Tino de Rans, lembramos o Sr. Presidente, que existem eventos que podem dignificar e promover o nosso Concelho e que o mesmo possui História, Património, Cultura e Tradição que não é compatível com este estilo “Bimba” (que contém traços do estilo “Bimbo” e do estilo “Pimba”), de promoção, e na qual muitos dos munícipes não se revêem. Não será seguramente desta forma que será dado cumprimento à promessa de promover Évora como capital regional do património e da cultura no contexto nacional, ibérico e europeu.

Por tudo isto Sr. Presidente, nem o Sr. contará connosco nem nós contaremos consigo.

Há quatro anos atrás (vidé Diário do Sul de 14/12/2001), tivemos ocasião de manifestar a nossa oposição a uma certa corrente que (vamos lá saber porquê?), defendeu o “voto útil” em V. Exa., como única forma de assegurar a mudança, o que quiçá terá sido a responsável pela actual situação. Então como hoje, recusámos a opção da escolha do mal menor para o futuro do nosso Concelho. Infelizmente não nos enganámos…Perante qualquer tentativa de oferta de propostas “úteis”, continuaremos firmes e coerentes nas nossas opções, e perfeitamente conscientes da necessidade urgente de mudança de rumo, pelo que o “voto útil” para o nosso Concelho não será seguramente o voto na Vossa candidatura.

Cordialmente
Ricardo Freixial, munícipe

Nota : Esta nossa distinta forma de analisar o “rumo” não espera nem aceita de V .Exa. Sr. Presidente, outra reacção que não a dirigida ao Concelho. Este sim…exige-a!
|| JMC - João Maria Condeixa, 18:11

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