Axónios Gastos - fibras condutoras ou prolongamentos de neurónios que se encontram já consumidos.

domingo, abril 02, 2006

Há um ano escrevia uma crónica...


Totus Tuus


Todo Teu. Assim se considerou João Paulo II perante Maria. Assim nos poderíamos considerar nós perante ele. Todo Teu. Todos Teus. Todo Nosso. Sim , porque ele não foi mais senão Nosso.
Pela primeira vez na história da Igreja Católica, cada nação, cada povo, cada religião, cada credo, cor ou sistema político pôde dizer que teve um pouco do Papa. Teve-o graças à união que ele concebeu. Teve-o graças à luz que ele germinou entre povos rivais. Teve-o graças aos alertas que enviou sem olhar a quem. Mas teve-o principalmente porque, como até então nunca visto, beijou a terra que cada um de nós percorre e mostrou a Humanidade que em Sua Santidade existia.
Revelou-se Humano, revelou-se sofredor, revelou-se simples na devoção e mostrou o quão fácil e necessário é fazê-lo. Revelou Deus e revelou Cristo através de Nossa Senhora.
Muitos há que dizem que ele, tal como Cristo, percorreu um longo calvário e não desceu da cruz, mostrando através do seu sofrimento a importância de Deus em nós. Eu acho que ele desceu. E sempre que desceu acariciou uma criança, tocou o coração de um rico ou confortou o coração de um pobre. Sempre que desceu deu o seu sorriso generoso, franco e bom àqueles que da alegria se tinham já esquecido.
Hoje todos o choram. Hoje todos relembram que à medida que a sua luz findava e que a sua voz e mãos trémulas davam a benção, crescia o seu espírito nos nossos corações. Hoje é o seu funeral e o mundo compreende agora as vezes que lhe falhou. Compreende agora que arquinimigos podem conviver no mesmo espaço se algo transcendental existir e lhes apaziguar a alma, bastando para isso corresponder aos ensinamentos que tão generosamente João Paulo II deixou e que no fundo eram simplesmente a mensagem de Jesus Cristo.
É isso que falta ao mundo, uma âncora. Uma referência superior. Um pilar sólido que preencha o lugar da mágoa, da dor, do ódio, da inveja, da ganância e que se reflicta em compreensão, serenidade, compaixão, solidariedade, amor e fraternidade.
Será para o resto da minha vida, este o significado de João Paulo II. O símbolo da denuncia de ideologias que neguem a importância de Deus. Foi isso que aconteceu com a Rússia, com o fim do comunismo e o mesmo se terá passado no pólo oposto aquando do aviso aos EUA e ao estilo de vida vincada e desumanamente capitalista. Sempre denunciando, sempre trabalhando para a posterior reconversão. É este o espírito que guardo na memória, o de alguém que tão humanamente demonstrou a importância de ter Deus nas nossas vidas como prioridade.
Mas apesar de reconhecer essa sua filosofia característica, penso nas vezes que lhe falhei. Nas vezes que o escutei e não segui. Nas vezes que duvidei e não me entreguei. Nas vezes que pensei que a sua imagem estaria comigo eternamente e adiei o nosso encontro. Hoje terá partido, mas felizmente a sua vida não fica por aqui, apenas está mais alto, mais longe, mais tímido, mas comigo na mesma.
Viveu com as mãos repletas de sonhos e obras concretizadas, mas partiu com a humildade de quem as levava vazias.
Agora, nada mais simples que nos despedirmos a rezar. Todos. Uma Igreja, um Mundo, por um Santo Padre que na sua morte cumpre o que sempre idealizou, a união. E no seio dessa gigantesca união de Igrejas, sempre um espaço para a despedida individual, para a despedida pessoal...
Eu despedi-me!

João Maria Condeixa
|| JMC - João Maria Condeixa, 15:26

1Comentários:

TOTUS TUUS!
Blogger Miguel Soares, at 3:46 da tarde  

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