Axónios Gastos - fibras condutoras ou prolongamentos de neurónios que se encontram já consumidos.

domingo, setembro 10, 2006

Terceira Via na Pedra Lascada

Não há tentativa de constituir um novo bloco central. Há algo mais do que isso. Há a tentativa de solidificar dois partidos à Third Way (terceira via) do socialismo. Os partidos socialistas de maior expressão em Portugal, tal como os restantes, têm bases enraizadas a uma crença. À sua própria e respectiva crença, mas de igual forma enraizada. Ora essas âncoras não permitem, nem toleram grandes desvios comportamentais do seu partido, o que obriga a estratégias cíclicas, normalmente rotuladas em Portugal, por Bloco Central.

E a estratégia dos dias de hoje não é mais que a desesperante corrida dos partidos socialistas à terceira via de Blair, ou pelo menos a algo parecido. Sócrates, se quiser permanecer mais um mandato terá de cumprir minimamente as suas ambições de campanha. E certamente que já compreendeu que o único rumo possível para si, é seguindo alguns dos aconselhamentos que Giddens deu a Blair. E essa evolução socialista só será admitida se tiver um bode expiatório como o PSD para se proteger, caso contrário o PS mais à esquerda, nunca o permitiria.

Por sua vez, a ambição de Marques Mendes aliada à percepção da sua incapacidade de modificar o partido internamente, levam-no a pensar em tábuas de salvação externas. Os seus opositores internos não lhe permitem ficar na história do partido através das reuniões magnas, assim, por fora, poderá remodelar alguma da social-democracia e atingir algum protagonismo no futuro. Até porque a terceira via se adequa melhor ao PSD que ao PS, mas até agora um dos requisitos principais para a sua implantação, o exaustivo diálogo, tem estado do lado oposto.

Assim, se até agora os desvios comportamentais do PS eram ainda ténues, poderão ser aumentados com a colaboração do PSD a mascarar. O único problema está na base de todo o processo de adaptação da terceira via:
Sócrates não sucedeu ao liberalismo de Tatcher, mas sim ao cinismo dialogante de Guterres. Marques Mendes não está no poder, nem corre esse risco. Portugal não pode saltar para a idade do Bronze sem passar pela do Ferro. Tem de primeiro liberalizar a economia e encontrar aí o seu Estado. E só depois entrar noutras filosofias.

|| JMC - João Maria Condeixa, 18:23

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