Não há tentativa de constituir um novo bloco central. Há algo mais do que isso. Há a tentativa de solidificar dois partidos à Third Way (terceira via) do socialismo. Os partidos socialistas de maior expressão em Portugal, tal como os restantes, têm bases enraizadas a uma crença. À sua própria e respectiva crença, mas de igual forma enraizada. Ora essas âncoras não permitem, nem toleram grandes desvios comportamentais do seu partido, o que obriga a estratégias cíclicas, normalmente rotuladas em Portugal, por Bloco Central.
E a estratégia dos dias de hoje não é mais que a desesperante corrida dos partidos socialistas à terceira via de Blair, ou pelo menos a algo parecido. Sócrates, se quiser permanecer mais um mandato terá de cumprir minimamente as suas ambições de campanha. E certamente que já compreendeu que o único rumo possível para si, é seguindo alguns dos aconselhamentos que Giddens deu a Blair. E essa evolução socialista só será admitida se tiver um bode expiatório como o PSD para se proteger, caso contrário o PS mais à esquerda, nunca o permitiria.
Por sua vez, a ambição de Marques Mendes aliada à percepção da sua incapacidade de modificar o partido internamente, levam-no a pensar em tábuas de salvação externas. Os seus opositores internos não lhe permitem ficar na história do partido através das reuniões magnas, assim, por fora, poderá remodelar alguma da social-democracia e atingir algum protagonismo no futuro. Até porque a terceira via se adequa melhor ao PSD que ao PS, mas até agora um dos requisitos principais para a sua implantação, o exaustivo diálogo, tem estado do lado oposto.
Assim, se até agora os desvios comportamentais do PS eram ainda ténues, poderão ser aumentados com a colaboração do PSD a mascarar. O único problema está na base de todo o processo de adaptação da terceira via:
Sócrates não sucedeu ao liberalismo de Tatcher, mas sim ao cinismo dialogante de Guterres. Marques Mendes não está no poder, nem corre esse risco. Portugal não pode saltar para a idade do Bronze sem passar pela do Ferro. Tem de primeiro liberalizar a economia e encontrar aí o seu Estado. E só depois entrar noutras filosofias.