Axónios Gastos - fibras condutoras ou prolongamentos de neurónios que se encontram já consumidos.

quarta-feira, maio 16, 2007

Eu quero um busto meu!


A construção da relação entre a arte e o poder é certamente contemporânea do nascimento da mais velha profissão do mundo. Não precisamos de pensar em patronos como os Médicis e a sua relação simbiótica com a arte. Basta imaginarmos que no tempo das cavernas, aqueles que deteriam mais poder (cavernas maiores, mais abrigadas, mais frutos e corantes) seriam aqueles que mais impulsionariam a arte. Obviamente que esta seguiria as vontades que o líder Neandertal impusesse.

Ora, desde essa época até aos dias de hoje, salvo raras excepções, a evolução da arte tem assentado nesses carris. Carris que a ligam intimamente ao(s) poder(es). Seja ele oficial ou contra-poder. Os poderes absolutos, ditatoriais, de esquerda ou direita, sempre apostaram bastante na arte. Assumindo uma postura propagandística, as apostas e apoios na arte seriam grandes, quer do lado oficial (mais projectado) quer do contra-poder (mais clandestino). A própria Igreja trabalhou muitíssimo essa vertente mais monopolizadora da arte.
A sua vertente mais lúdica, mais liberta e libertadora terá sido várias vezes substituída por uma função específica ao serviço de interesses, pelo que a sua evolução, reforço, salvo raras excepções, sempre dependeu de quem a estimulava, apoiava e subsidiava.

Ora, o Estado ao fazê-lo, ao contrário da legitimidade de um mecenas privado, estará inevitavelmente a apostar apenas numa faixa de um espectro enorme, descurando, nessa aposta, artistas e consequentemente partes do público que compõem a sociedade e que deveriam ter igual oportunidade e oferta. Se em regimes ditatoriais tal acção é esperada, em democracias ocidentais, embora seja quase sempre assim, acaba por não ter grande coerência com os princípios proclamados.

Mais, se pensarmos que do ponto de vista propagandístico a arte foi substituída pelos media, tal é a sua abrangência e eficiência de comunicação e persuasão, é naturalmente tentador que se aposte cada vez mais nos órgãos de comunicação social (directa ou indirectamente) em detrimento das artes em si.

Tal lógica remete a arte para uma dependência mais directa do gosto das pessoas(mercado=oferta e procura) e de mecenas particulares, quebrando amarras com o poder, neste caso, já político. O que não me parece prejudicial, pois aí poderá crescer com maior liberdade e expressão. E em simultâneo beneficiar o consumidor que assim poderá deixar de temer efeitos colaterais ao apreciar o que quer que seja arte.

Mas mesmo que o consumidor não esteja preparado para determinada obra mais vanguardista, este poderá dar espaço económico ao criador para o teste, ao adquirir parte da sua obra mais comercial. E para quem assim não crê, basta pensar que o próprio poder (Estados) de vanguardista nunca teve muito, pelo que pior não poderá ficar.

No que toca ao percurso inverso feito pelos media, parece-me que ficará para outro post…mas lá iremos!
|| JMC - João Maria Condeixa, 17:32

2Comentários:

EU tou Primeiras, Tá!?
Blogger Reisoca, at 10:44 da manhã  
Ou seja, extingue-se o Ministério da Cultura.
Blogger David Martins, at 2:18 da tarde  

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