"Desde Fevereiro de 2005 que a rotina manda discutir sobretudo a “crise da direita”. Sempre achei imensa graça àqueles que diagnosticam uma crise à direita porque o governo do PS lhe teria roubado as “bandeiras”. Mas se os líderes do maior partido de esquerda precisam de roubar bandeiras ao adversário, quem é que está mesmo em crise? De facto, José Sócrates não roubou ninguém. Limita-se a fazer o necessário para dar mais uns anos de vida ao Estado Social. Como não é possível subir mais os impostos, baixa as prestações. Sócrates limitou-se a tropeçar numa velha verdade socialista: o empobrecimento é o preço do domínio do Estado sobre a vida de cada um.
[...]
É curioso. No século XIX, era ao contrário: era à direita que mais gente detestava a América (isto é, a democracia), e temia o princípio da liberdade e responsabilidade individuais. Quando se diz que a esquerda precisa de mudar, esquece-se isto: uma parte demasiado grande da esquerda mudou, mudou mesmo muito. É essa mudança que faz com que, à esquerda, uns olhem para o mundo como para um labirinto incompreensível, e outros sejam acusados de traição quando dão sinais de não estarem completamente perdidos. "