A esquerda em Portugal, resultante de uma deturpação histórica, teve sempre a tentação de ser monopolista da liberdade. Enquanto arautos de uma definição muito própria desse conceito assumiam, numa posição muito paternalista, todos os sacrifícios que tal fardo representava. Era um fardo pesado, de tal forma custoso, que qualquer comum ser humano fugiria ao primeiro olhar. Mas a nossa esquerda, não! Transportava a liberdade, como se fosse a sua sina, o seu fado. E sempre que se assumia como fiel depositária de tal desígnio dos deuses, mostrava-se orgulhosa, mas muito cansada e sacrificada. Como se estivesse num calvário.
Entretanto os tempos foram evoluindo, o discurso manteve-se, as memórias repetiam-se à saída da caixa e os embaixadores da liberdade tornaram-se obsoletos. Ficaram reféns de recordações, algumas bacocas, que não lhes permitiu verem outras frentes em que perdiam liberdade.
Por sua vez a direita foi, gradualmente, conquistando espaço. Os complexos de esquerda foram tendo tratamento psicológico, muito embora existam uns quantos que o recusam receber ou são já incuráveis, e o efeito foi permitindo passar um discurso sobre a liberdade que era impensável, sobretudo se trazido por uma ala ou quadrante de direita.
A verdade é que o conceito mudou. E estendeu-se a áreas fora da concepção de Abril. E assim mudou de mãos. Hoje a direita já não tem vergonha em falar nisso e aliás ergue a liberdade como uma bandeira também sua!
Talvez por isso, o entusiasmo com o 5 de Novembro e a Vendetta tenha sido, por mero acaso e coincidência, tão grande!