Eu não queria referendo, nem queria o Tratado de Lisboa. Para mim a Europa tinha parado em Maastricht quando tudo estava construído para que esta organização se limitasse a uma mera bola económica competitiva pronta a girar pelo mundo fora. Temo aliás que todos os entraves que se apontam e falta de desenvoltura de todo um projecto, esteja aliás no facto de ter querido alcançar algo mais que económico. Algo social. Algo abstracto, que no fim resulta em burocracias e tantas outras confusões e medidas que tão bem conhecemos e a maioria detestamos.
Mas voltando ao que interessa.
Não queria referendo pois acreditava que teria custos enormes (financeiros e políticos) que não justificavam tal procedimento. Preferia colocar a responsabilidade na Assembleia submetendo o tratado a ratificação parlamentar.
Mas as minhas razões são diferentes das de Sócrates. Sócrates prometera ouvir o povo e com ele tinha uma legião a segui-lo dentro do seu partido. É normal, os partidos também funcionam assim. Só não é normal que agora digam que afinal é preferível assim, pois é tempo de governar e que isso é que faz falta ao país. É ser mais hipócrita do que na altura em que queriam ouvir o povo.
Já do outro lado da barricada aqueles que defendiam o referendo podem agora chamar o Primeiro-Ministro de mentiroso, cobarde e de ter virado o bico ao prego. Mas já não os devia espantar. Quantas vezes já o fez? E por quantas razões diferentes?
A mim não me espantou. Sobretudo depois de se ter mostrado complacente no caso do novo Aeroporto. Sócrates não dá ponto sem nó. Tirou de um lado, "cedeu" do outro.
E assim estão o Tratado de Lisboa e o Aeroporto interligados. Bienvenue à real politik!