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quarta-feira, abril 09, 2008

Política e Religião

Existem três assuntos passíveis de gerar uma discussão digna de um bom serão: futebol, religião e política. Se não contarem comigo para o primeiro, tal é a minha ignorância futebolística, os outros dois serão motivo suficiente para vos bater à porta com uma garrafinha de tinto.

Tudo começa com o AAA a perguntar se podem os católicos ser liberais. Para mim, que também não defino, nem faço tenções de definir, quem é ou não de direita, ou o que deixa ou não a Igreja de fazer, podem.

Ao que parece o Rui Castro não pensa assim e o Nuno Pombo espera mais informações para poder responder. Felizmente a resposta do meu amigo João Vacas, dá-me espaço para responder sem deixar de ser de direita ou sem correr o risco de parecer menos católico. Mesmo que ele comigo não esteja de acordo, como em algumas situações já aconteceu, sei que me dá espaço para isto, como eu lhe dou espaço aos rojões que por vezes dali saem, ou não fosse ele um antigo GFAS.

É verdade que muitos católicos encontram no Estado, tal como alguns socialistas, uma boa ferramenta para fazer valer os seus valores. Mas não chego a pensar que a única diferença destes últimos para os primeiros é crerem em Deus, como faz o AAA. Até porque há socialistas que felizmente são católicos.

A verdade é que eu prefiro passar esses mesmos valores para a sociedade, se ela assim o entender, sem recorrer ao auxílio Estatal, tal como, entre outros aspectos, foca a encíclica “Deus Caritas Est”:

“A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça.” ... “Um Estado, que queira prover a tudo e tudo açambarque, torna-se no fim de contas uma instância burocrática, que não pode assegurar o essencial de que o homem sofredor — todo o homem — tem necessidade...”

“Não precisamos de um Estado que regule e domine tudo, mas de um Estado que generosamente reconheça e apoie, segundo o princípio de subsidiariedade, as iniciativas que nascem das diversas forças sociais e conjugam espontaneidade e proximidade aos homens carecidos de ajuda. A Igreja é uma destas forças vivas...”

Este parece-me um bom ponto de partida para a resposta que o AAA pretendia. Lendo isto e podendo não concordar com tudo ao pormenor, tenho quase inteira certeza que existe espaço para o liberalismo católico na política e na Igreja, sem que se confundam, jamais, os diferentes papéis que desempenham na sociedade.

Para mim - e é aí que entro em desacordo com este excerto da encíclica - a Igreja não tem de esperar nada do Estado sobretudo porque "a actividade caritativa cristã deve ser independente de partidos e ideologias." Nem o Estado deve esperar nada da Igreja, quando se afirma laico. E se, partindo das ideias aqui apresentadas, o católico, convicto das suas acções para com o próximo, encara que a melhor solução reside no liberalismo, independentemente do grau, Rui Castro, que razões o impossibilitam de ser?

Originalmente postado na Câmara de Comuns
|| JMC - João Maria Condeixa, 17:23

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