Axónios Gastos - fibras condutoras ou prolongamentos de neurónios que se encontram já consumidos.

sábado, agosto 11, 2007

Igreja & Estado (2)

O beijo de Judas, Michelangelo Caravaggio

Dia 11 de Agosto. Em 1578 morria Pedro Nunes, o matemático que em muito possibilitou os descobrimentos portugueses. Foi, sem dúvida, um dos grandes portugueses. Mas Pedro Nunes era um cristão-novo, epíteto utilizado na altura para classificar judeus convertidos obrigatoriamente ao cristianismo, pelo que os seus netos, anos mais tarde, viriam a ser vítimas da inquisição. E este crime, de que a Igreja actual já pediu inúmeras vezes perdão, resultava de uma Igreja espiritualmente débil, desnorteada, amedrontada que utilizava a arrogância e a força para se impor. Eram as suas derradeiras armas.

Eu, pelo contrário, quero uma Igreja forte, convicta, blindada e sólida nos seus valores. Sem que tal signifique um espírito ortodoxo, longe disso. Mas quero que esses valores, que essa doutrina, assente em francos pilares, seja, estritamente, de e para a Igreja. Para aqueles que a compõem, para a Ecclesia.

Não quero uma Igreja num Estado, da mesma forma que não quero o Estado no indivíduo. A Igreja no Estado fica sempre perdedora. Põe em causa a sua matriz, cai nos vícios do Estado, interfere nas opções espirituais de outros e no fim dessa relação biológica fica sempre mais fraca. Eu não a quero assim, logo não a quero no Estado. Custa muito a perceber?

P.S. - Em Fevereiro já tinha falado sobre isto. Desculpem a repetição.
|| JMC - João Maria Condeixa, 19:51

3Comentários:

«Os problemas políticos são fundamentalmente problemas religiosos e morais porque um propósito divino rege a sociedade e a consciência.»
Russel Kirk

É caso para perguntar se também deseja um estado "português" sem portugueses?

Com uma "Direita" assim, nem vale a pena existir uma Esquerda. O algodão não engana!
Blogger Pedro Tomé, at 2:13 da manhã  
Pedro, se acha que os problemas políticos são fundamentalmente religiosos e morais, então peço-lhe que vá perguntar ao meio milhão de desempregados se estão de acordo consigo. Vá perguntar a cada um dos contribuintes que deixa 40% do seu suor no Estado, sem que veja retorno algum, se também concorda consigo.A Igreja pode ajudar bastante e aí sempre teve um papel preponderante, mas para isso não precisa de se imiscuir com o Estado. Pode mostrar fora do Estado o que vale. Cada um dos católicos, como eu, pode e deve fazê-lo, como já se tem verificado em várias situações. E aí a Igreja poderá sair reforçada. Mas Pedro, as pessoas não se alimentam apenas de fé!Os problemas não são todos da divindade, a maioria são bem reais e palpáveis e para eles talvez esta citação se adeque melhor que a de Kirk: "Faz por ti que eu te ajudarei"
Blogger JMC - João Maria Condeixa, at 2:47 da manhã  
Caro João, mantenho e reforço a minha posição. Repare, o João refere e muito bem que cada contribuinte deixa 40% dos seus rendimentos no Estado. Ora nem mais! Um dos problemas (porventura o principal) do Estado pós-marxista português é precisamente o facto de ter perdido toda a moralidade e toda a espiritualidade, que lhe deveria ser inerente. Ou seja o Estado foi completamente excluído das suas funções morais pelos agentes revolucionários (lóbis, partidos, esquerda e alguma “direita”). Agora o que o João não pode é por as culpas dos erros do Homem em Deus e no divino. É injusto e desonesto. Porque, eu sei perfeitamente que as pessoas não alimentam o seu corpo de fé. Não é isso que está em causa. O que está em causa é o facto de Portugal ser um país que carrega na sua bandeira o peso das chagas de Cristo. Ou seja, não se pode destituir o catolicismo, ele é inerente à portugalidade. Para se ser português tem necessariamente que se ser católico. São coisas indissociáveis. E era a isso que Russell Kirk se referia na sua obra «The Conservative Mind». O Estado não se pode abstrair do povo e dos seus agentes naturais (costumes, tradições, crenças, hábitos, etc.) que são os seus motores de desenvolvimento e de continuidade. Caso contrário, estamos a fomentar um Estado igualitário e ateu. Ou seja, é fim da hierarquia social e o início da sociedade sem classes.
Abraço.
Blogger Pedro Tomé, at 7:51 da tarde  

Add a comment

Site Meter BlogRating